ACABOU O CARNAVAL E AI?
Onildo Braz
Acredito que o poema de Drumond, se enquadra perfeitamente nessa realidade bem Brasileira.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio, e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar,
sem cavalo pretoque fuja do galope,
você marcha, José!José, para onde? Onde?
Pros braços de Deus, lugar onde o fim vira começo.
A Deus todo a Glória!
Pr. Onildo Braz
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